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#05 Pensar no futuro ou resolver os problemas do presente?

Numa época em que se fala de crises (várias) mas também da urgência de tomarmos medidas para garantirmos futuros mais sustentáveis, mais dignos, quais devem ser as nossas prioridades? Como é que podemos, na nossa prática, ajudar a alcançar um equilíbrio? Neste quinto artigo da série Doze meses, doze temas, David Ferreira e Rita Azevedo falam do impacto dos edifícios e de estratégias para melhorar a qualidade das nossas construções e das nossas cidades.

 

Pensar no futuro ou resolver os problemas do presente?

Temos sempre de pensar no futuro. Faz tudo parte de um processo que começa com o que aprendemos no passado, à implementação que fazemos no presente e àquilo que se reflete no futuro. A arquitetura tem esta grande característica que é ser modeladora da vida das pessoas. Cria mundos, comunidades, e cria a um prazo de várias gerações. Um edifício pode persistir por 100, 200, 300 anos, o que tem um impacto bastante significativo, portanto quando o pensamos, quando o executamos, temos essa responsabilidade e esse poder, de alguma forma, de modelarmos, de intervirmos no dia-a-dia e na vida das pessoas. E por isso temos de pensar sempre numa perspetiva de futuro, como é que aquilo que fazemos agora se vai refletir futuramente. Na nossa fórmula de conceção de um edifício, pelo peso que tem a vários níveis, é fundamental ter em conta os três pilares da sustentabilidade: o social, o natural e o económico. Temos sempre de conseguir este equilíbrio para não comprometer o futuro em termos de recursos naturais e humanos. (Rita Azevedo)

Eu acredito que não nos podemos focar num sem o outro. E pegando no que a Rita disse, os edifícios têm essa capacidade de persistir e também de se transformar. Acho que esta flexibilidade deve ser tida em conta no momento de projetar, como é que este edifício vai servir no futuro? Existem problemas no presente, e alguns que vêm do passado. Devemos aprender com estes problemas, com estes erros, mas quando projetamos temos sempre de pensar no futuro, no fazer melhor, mais eficiente, mais sustentável. Porque no fundo, nós estamos a desenhar um edifício para um cliente, a pensar nas soluções técnicas mais eficazes para este cliente, mas, o que estamos mesmo a fazer, é criar um edifício que terá de servir a cidade, não vai só servir aquele cliente. Não podemos não olhar para o futuro, até porque já vamos um bocadinho atrasados, esta preocupação global efetiva é relativamente recente. Sustentabilidade, acessibilidade e mobilidade são conceitos que não se ouviam há 20 anos, hoje estamos todos, quer na arquitetura, quer na engenharia, mas também o cliente, sensibilizados para estes temas. (David Ferreira)

 

Que soluções estão ao nosso alcance?

Atualmente estamos a atravessar uma grande crise no que toca à habitação, é algo de que se fala muito, mas que eu considero que é mais um problema político do que um problema técnico. É, na sua origem, algo que nos ultrapassa. Mas nós, como técnicos, temos a obrigação de arranjar soluções para minimizar o impacto que está a ter. Eu diria que, numa primeira análise, é importante pensar num sentido de reutilização, de olhar para o que temos e pensar em como podemos dar vida àquele edifício e adaptá-lo às necessidades contemporâneas. De facto, se numa urgência de construção como aconteceu por exemplo nos anos 80, se constrói desenfreadamente e mal, porque tinha de ser rápido e barato, acabamos com uma série de edifícios que permanecem hoje mas que não fazem sentido. Não se pensou no futuro, nesta ideia de herança, do que vamos cá deixar, foi apenas tapar as feridas do presente. Portanto acho que pode passar por aí, por projetar com o futuro em vista mas também pela reabilitação de edifícios existentes e pela criação de soluções que sejam mais adaptáveis e flexíveis, ligadas, por exemplo, a uma arquitetura modular. (Rita Azevedo)

O foco não deve ser construir mais mas sim construir melhor e construir de forma flexível, com o futuro em vista. Hoje temos edifícios com 50, 60 anos, sem grandes condições, mas que foram adaptados de forma mais ao menos informal às necessidades dos seus novos donos e habitantes — as varandas transformadas em marquise são um exemplo claro de uma construção que não teve em conta o futuro. A reabilitação, concordo que passa também por aí, é mais sustentável do que fazer de novo, já não precisamos de tanto betão, de tantos materiais. Mas sublinho muito esta ideia da flexibilidade, as necessidades de hoje já não são as de amanhã. Uma coisa de que se fala bastante hoje em dia é a construção modular, e acredito que o futuro passe também por aí. A modularidade reduz o desperdício de recursos e faz-nos olhar para o processo da construção de forma crítica. De onde é que veio determinado material, como é que foi produzido, quantos quilómetros é que fez, tudo isto são questões que têm de ser tidas em conta. (David Ferreira)

 

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Numa época em que se fala de crises (várias) mas também da urgência de tomarmos medidas para garantirmos futuros mais sustentáveis, mais dignos, quais devem ser as nossas prioridades? Como é que podemos, na nossa prática, ajudar a alcançar um equilíbrio? Neste quinto artigo da série Doze meses, doze temas, David Ferreira e Rita Azevedo falam do impacto dos edifícios e de estratégias para melhorar a qualidade das nossas construções e das nossas cidades.

 

Pensar no futuro ou resolver os problemas do presente?

Temos sempre de pensar no futuro. Faz tudo parte de um processo que começa com o que aprendemos no passado, à implementação que fazemos no presente e àquilo que se reflete no futuro. A arquitetura tem esta grande característica que é ser modeladora da vida das pessoas. Cria mundos, comunidades, e cria a um prazo de várias gerações. Um edifício pode persistir por 100, 200, 300 anos, o que tem um impacto bastante significativo, portanto quando o pensamos, quando o executamos, temos essa responsabilidade e esse poder, de alguma forma, de modelarmos, de intervirmos no dia-a-dia e na vida das pessoas. E por isso temos de pensar sempre numa perspetiva de futuro, como é que aquilo que fazemos agora se vai refletir futuramente. Na nossa fórmula de conceção de um edifício, pelo peso que tem a vários níveis, é fundamental ter em conta os três pilares da sustentabilidade: o social, o natural e o económico. Temos sempre de conseguir este equilíbrio para não comprometer o futuro em termos de recursos naturais e humanos. (Rita Azevedo)

Eu acredito que não nos podemos focar num sem o outro. E pegando no que a Rita disse, os edifícios têm essa capacidade de persistir e também de se transformar. Acho que esta flexibilidade deve ser tida em conta no momento de projetar, como é que este edifício vai servir no futuro? Existem problemas no presente, e alguns que vêm do passado. Devemos aprender com estes problemas, com estes erros, mas quando projetamos temos sempre de pensar no futuro, no fazer melhor, mais eficiente, mais sustentável. Porque no fundo, nós estamos a desenhar um edifício para um cliente, a pensar nas soluções técnicas mais eficazes para este cliente, mas, o que estamos mesmo a fazer, é criar um edifício que terá de servir a cidade, não vai só servir aquele cliente. Não podemos não olhar para o futuro, até porque já vamos um bocadinho atrasados, esta preocupação global efetiva é relativamente recente. Sustentabilidade, acessibilidade e mobilidade são conceitos que não se ouviam há 20 anos, hoje estamos todos, quer na arquitetura, quer na engenharia, mas também o cliente, sensibilizados para estes temas. (David Ferreira)

 

Que soluções estão ao nosso alcance?

Atualmente estamos a atravessar uma grande crise no que toca à habitação, é algo de que se fala muito, mas que eu considero que é mais um problema político do que um problema técnico. É, na sua origem, algo que nos ultrapassa. Mas nós, como técnicos, temos a obrigação de arranjar soluções para minimizar o impacto que está a ter. Eu diria que, numa primeira análise, é importante pensar num sentido de reutilização, de olhar para o que temos e pensar em como podemos dar vida àquele edifício e adaptá-lo às necessidades contemporâneas. De facto, se numa urgência de construção como aconteceu por exemplo nos anos 80, se constrói desenfreadamente e mal, porque tinha de ser rápido e barato, acabamos com uma série de edifícios que permanecem hoje mas que não fazem sentido. Não se pensou no futuro, nesta ideia de herança, do que vamos cá deixar, foi apenas tapar as feridas do presente. Portanto acho que pode passar por aí, por projetar com o futuro em vista mas também pela reabilitação de edifícios existentes e pela criação de soluções que sejam mais adaptáveis e flexíveis, ligadas, por exemplo, a uma arquitetura modular. (Rita Azevedo)

O foco não deve ser construir mais mas sim construir melhor e construir de forma flexível, com o futuro em vista. Hoje temos edifícios com 50, 60 anos, sem grandes condições, mas que foram adaptados de forma mais ao menos informal às necessidades dos seus novos donos e habitantes — as varandas transformadas em marquise são um exemplo claro de uma construção que não teve em conta o futuro. A reabilitação, concordo que passa também por aí, é mais sustentável do que fazer de novo, já não precisamos de tanto betão, de tantos materiais. Mas sublinho muito esta ideia da flexibilidade, as necessidades de hoje já não são as de amanhã. Uma coisa de que se fala bastante hoje em dia é a construção modular, e acredito que o futuro passe também por aí. A modularidade reduz o desperdício de recursos e faz-nos olhar para o processo da construção de forma crítica. De onde é que veio determinado material, como é que foi produzido, quantos quilómetros é que fez, tudo isto são questões que têm de ser tidas em conta. (David Ferreira)