A arquitetura muda as vidas das pessoas, o território, tem um impacto claro e efetivo em tudo o que intervém. É fundamental que o arquiteto tenha essa consciência e assuma a responsabilidade pelo impacto da sua prática, mas como garantir que o fazemos da maneira certa? Neste nono artigo da série Doze meses, doze temas, Duarte Pinto-Coelho e Miguel Vivas falam do impacto do trabalho do arquiteto e de como garantir que seja positivo.
Como criar impacto?
Ao desenhar uma obra, nós, arquitetos, estamos de alguma forma a impactar o mundo o que nos imprime o dever de fazê-lo de forma positiva. Criando impacto sempre que intervimos no território é de uma responsabilidade enorme, somos como maestros que guiam vários intervenientes todos os dias, do esquisso à obra. Há que ter essa consciência desde o primeiro momento quando idealizamos um projeto, temos de encarar essa responsabilidade e reconhecer o impacto do resultado para que seja o mais positivo possível ambientalmente, para o edifício, para a cidade, para o planeta e para quem os habita e visita. Desempenhamos esse papel através do nosso conhecimento, da nossa experiência que nos mostra que cada projeto e cada cliente são únicos, tornando a nossa profissão tão abrangente e extraordinária. A forma como esse projeto é mantido e perdura também impacta, a arquitetura tem um carácter de longevidade, deve poder manter-se para além do seu objetivo inicial ou do seu cliente original. (Duarte Pinto-Coelho)
Na perspetiva do papel que o arquiteto tem e do próprio processo criativo, quando nós intervimos no território é sempre do ponto de vista de quem vai abordar um problema, que não precisa necessariamente de ser uma coisa negativa, pode ser um objetivo que o cliente nos põe, e a partir daí vamos encontrar a sua solução. É muito relevante que sejamos capazes de encontrar a resposta certa, e, a resposta certa, muitas vezes, não é a resposta certa apenas para nós, arquitetos, mas é a resposta que melhor responde àquela ansiedade, àquela pessoa, àquele objetivo. E, naturalmente, às condicionantes e necessidades do território. É um pouco como interpretar corretamente. Saber como é o palco que nós temos de criar para que determinado ator que vai desempenhar determinada peça, o faça da melhor forma, criar o cenário correto para que tudo funcione. É na assertividade da solução que está o impacto do nosso trabalho – na vida das pessoas, no seu trabalho, na cidade, na função do objeto arquitetónico e na felicidade. (Miguel Vivas)
No processo de fazer arquitetura onde é que este conceito entra na equação?
Começa tudo quando vamos ao terreno, e o impacto que aquele lugar tem em nós, a maneira como nos relacionamos com a vista, com os objetos que nele existem - uma árvore, uma serra, um rio, uma casa. Começa logo aí, nessa experiência do homem com o lugar, com o espaço, uma espécie de semente para aquilo que nós vamos criar. O objeto que vamos introduzir vai criar novas dinâmicas, vai relacionar-se, talvez, com uma árvore, com um espelho de água, e, de repente, aquele lugar que só tinha uma árvore, um corpo de água, não tinha sombra, vai receber um objeto que vai permitir a permanência, onde vamos poder estar abrigados, ouvir música, dançar, desfrutar do sabor de uma maçã. Esta é a primeira vertente do impacto e surge logo ao início. E, depois, saber que o objeto arquitetónico é algo que vai ser utilizado e que vai ter um impacto na pessoa a partir do momento que pisa aquele espaço, e se relaciona com ele. É um processo de interpretação, de seguir e ler as pistas que nos vão surgindo, que nos são dadas, seja pelo lugar onde vamos implementar um edifício, seja lendo e conhecendo as pessoas que o vão utilizar. E isso exige da nossa parte uma atenção, um cuidado de observar, temos de escutar as necessidades, para que possamos depois usar a nossa experiência e todo o conhecimento que vamos adquirindo ao longo dos anos, quer pela prática da nossa profissão quer por aquilo que nos inspira, nos motiva e que nos enriquece como indivíduos e como profissionais. É uma responsabilidade de montar as peças de um puzzle, e que esse puzzle nos dê a resposta que se pretende ao problema ou questão colocada inicialmente. (Miguel Vivas)
Eu gostava de acrescentar ao que o Miguel disse que nós não temos apenas essa responsabilidade, diria que, em primeiro lugar, para criar impacto é importante criar um pacto com o território. No decorrer do processo de criação, no processo de imaginação de um objeto arquitetónico, à medida que vamos projetando, é fundamental que se vá avaliando os impactos. É a soma dessas várias análises e até sensações que vamos tendo ao nível do processo criativo que faz com que, no final, já estejamos 100% cientes que o projeto terá um impacto positivo. Tudo isto é o que permite que não façamos apenas arquitetura, mais uma casa, uma escola, um hospital, uma cidade, mas que deixemos uma marca positiva. As nossas obras criam sempre impacto, tanto na paisagem como nas vivências das pessoas… Nós temos uma responsabilidade grande em criar o impacto certo e o nosso objetivo é que isso aconteça em todas as nossas obras. Quando idealizamos os nossos projetos temos de projetar como é que o edifício ou o espaço vai ser vivido, vai ser mantido, vai ser acarinhado e usufruído, garantindo a sua sustentabilidade. (Duarte Pinto-Coelho)