Artigos Reconhecimentos

#11 Como atribuir valor a um projeto?

O valor de um projeto de arquitetura não é facilmente quantificável e, muitas vezes, vai para além de mera uma definição de honorários. O que entra em linha de conta? Como atribuir o valor de um projeto? E como garantir que esse projeto acrescenta, cria valor? António de Sousa Coutinho e Pureza Vaz-Pinto falam-nos do valor do trabalho do arquiteto e da dificuldade em quantificá-lo.

 

Como atribuir valor a um projeto?

O valor é, antes de tudo, uma construção mental. A partir deste pressuposto eu diria que o primeiro momento para encontramos o valor de um projeto é o reconhecimento — um cliente vai escolher aquele arquiteto ou aquele atelier porque reconhece nele o talento ou as qualidades que procura para o seu projeto e a partir daqui vai começar uma troca. Esta troca eu imagino um pouco como uma ida ao psicólogo. Não sou arquiteta, mas faço terapia (risos) e claramente que o arquiteto seria o psicólogo. O cliente vai partilhar com o arquiteto um pouco da sua história, da sua vida, da sua experiência, dos seus sonhos…Para que isto seja possível tem de haver uma empatia muito grande entre cliente e arquiteto. Há aqui um trabalho do arquiteto de sair de si próprio, de se colocar no lugar do outro e, sem dúvida que isto é algo que acrescenta muito valor. Usa-se muito o termo desenho, desenhar uma casa, desenhar um hospital, mas isto na arquitetura vai muito para além de um desenho no papel, projetar é pensar num todo. E a esse todo agrega-se valor pela forma e pelo empenho com que se pensa cada pormenor de um espaço, as materialidades, a forma como as áreas comunicam, os detalhes…com objetivo de que cada projeto seja um projeto único e feito à medida do cliente. O arquiteto vai buscar a beleza e trazê-la ao seu projeto e isto só se faz com muita experiência, conhecimento e talento. No fundo o arquiteto tem uma posição um bocadinho altruísta porque ele vai fazer tudo em função de proporcionar uma melhor vida para o outro. Esta componente relacional, a empatia, é, de facto, a que mais valor traz a um projeto. E depois há ainda a parte de quantificar tudo isto, é um grande desafio… (Pureza Vaz-Pinto)

Explicaste muito bem este match com o cliente, concordo plenamente! Acrescento ainda aqui o valor que advém do que nos fazemos para a sociedade. Não apenas para o cliente, para quem vai habitar e usufruir dos espaços que projetamos, mas para a sociedade como um todo. O que é que nos podemos acrescentar ao espaço, ao local onde estamos a desenhar, o que valoriza aquela rua, aquele bairro, aquela cidade. O valor da arquitetura não é tangível, não é uma commodity que consigas quantificar exatamente, é uma valorização singular, por isso é que o arquiteto A e o arquiteto B não são iguais, nunca serão iguais. E este é um grande desafio para o arquiteto porque nem sempre é claro para o cliente qual é esta diferença, de onde é que vem e porque é que influencia tão dramaticamente os honorários. É sempre mais fácil ler os grandes títulos. (António de Sousa Coutinho)

 

E como chegar ao valor de um projeto?

Já vimos de onde vem o valor de um projeto, agora há que quantificar e o arquiteto também tem de fazer isto! Eu acho que isto é uma tarefa, não sei se difícil será a palavra, mas uma tarefa delicada, com certeza. No caso do Fragmentos, o António tem esta missão. Para além de um excelente arquiteto, é o nosso Coordenador de Desenvolvimento Comercial, tem por isso esta missão de quantificar estes sonhos, estes desenhos e apresentar uma proposta de honorários. Pegar em todos estes ingredientes – na experiência, na empatia e, claro, nos custos estimados – e chegar a um número. Imaginemos dois ateliers, o mesmo projeto. Um vai ao encontro daquilo que era esperado, o outro vai além de. Este além de faz a diferença. Mesmo que seja mais 100.000,00 € ele faz sonhar e acredita, permite um processo mais participado, inclui anos ou décadas de experiência e o resultado será um projeto de referência, um marco, haverá um antes e um depois daquele projeto. Isso tem um valor e tem de ser valorizado. (Pureza Vaz-Pinto)

Como disse há pouco, nem sempre é óbvio para um cliente perceber o valor intrínseco de um arquiteto ou de um atelier e de que forma é que isso vai influenciar os honorários. Nós quando calculamos o valor de um projeto, para além do valor-hora de todos os envolvidos, de uma estimativa do preço do m2 e dos custos vários, acrescentamos uma parte, como que uma camada, que corresponde a esse lado mais intangível, que tem a ver com o nosso reconhecimento no mercado, com a nossa experiência e com o valor que acrescentamos aos projetos. O tipo de serviço que prestamos e que inclui tudo aquilo que referimos – a empatia, a relação, o pôr-se no lugar no outro, o desenho numa parceria, numa troca constante e delicada – não é fácil de comunicar num primeiro momento, não é fácil para um cliente aperceber-se disso. Por norma, a tendência de um cliente, que é, na verdade, muitas vezes a tendência de todos nós quando procuramos comprar um produto ou contratar um serviço, é ir diretamente para o preço. Para o valor monetário no final da proposta de honorários. Este primeiro impacto é o mais difícil – porque é que vou pagar 200, se os outros me fazem a 50? – e cabe-nos a nós explicar o que é que está inerente a este valor e, claro está, mostrá-lo ao longo do processo para aumentar o nosso reconhecimento e garantir que, da próxima vez, no próximo projeto, o cliente já saiba que o valor que lhe apresentamos advém do valor que acrescentamos a cada projeto. (António de Sousa Coutinho)

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O valor de um projeto de arquitetura não é facilmente quantificável e, muitas vezes, vai para além de mera uma definição de honorários. O que entra em linha de conta? Como atribuir o valor de um projeto? E como garantir que esse projeto acrescenta, cria valor? António de Sousa Coutinho e Pureza Vaz-Pinto falam-nos do valor do trabalho do arquiteto e da dificuldade em quantificá-lo.

 

Como atribuir valor a um projeto?

O valor é, antes de tudo, uma construção mental. A partir deste pressuposto eu diria que o primeiro momento para encontramos o valor de um projeto é o reconhecimento — um cliente vai escolher aquele arquiteto ou aquele atelier porque reconhece nele o talento ou as qualidades que procura para o seu projeto e a partir daqui vai começar uma troca. Esta troca eu imagino um pouco como uma ida ao psicólogo. Não sou arquiteta, mas faço terapia (risos) e claramente que o arquiteto seria o psicólogo. O cliente vai partilhar com o arquiteto um pouco da sua história, da sua vida, da sua experiência, dos seus sonhos…Para que isto seja possível tem de haver uma empatia muito grande entre cliente e arquiteto. Há aqui um trabalho do arquiteto de sair de si próprio, de se colocar no lugar do outro e, sem dúvida que isto é algo que acrescenta muito valor. Usa-se muito o termo desenho, desenhar uma casa, desenhar um hospital, mas isto na arquitetura vai muito para além de um desenho no papel, projetar é pensar num todo. E a esse todo agrega-se valor pela forma e pelo empenho com que se pensa cada pormenor de um espaço, as materialidades, a forma como as áreas comunicam, os detalhes…com objetivo de que cada projeto seja um projeto único e feito à medida do cliente. O arquiteto vai buscar a beleza e trazê-la ao seu projeto e isto só se faz com muita experiência, conhecimento e talento. No fundo o arquiteto tem uma posição um bocadinho altruísta porque ele vai fazer tudo em função de proporcionar uma melhor vida para o outro. Esta componente relacional, a empatia, é, de facto, a que mais valor traz a um projeto. E depois há ainda a parte de quantificar tudo isto, é um grande desafio… (Pureza Vaz-Pinto)

Explicaste muito bem este match com o cliente, concordo plenamente! Acrescento ainda aqui o valor que advém do que nos fazemos para a sociedade. Não apenas para o cliente, para quem vai habitar e usufruir dos espaços que projetamos, mas para a sociedade como um todo. O que é que nos podemos acrescentar ao espaço, ao local onde estamos a desenhar, o que valoriza aquela rua, aquele bairro, aquela cidade. O valor da arquitetura não é tangível, não é uma commodity que consigas quantificar exatamente, é uma valorização singular, por isso é que o arquiteto A e o arquiteto B não são iguais, nunca serão iguais. E este é um grande desafio para o arquiteto porque nem sempre é claro para o cliente qual é esta diferença, de onde é que vem e porque é que influencia tão dramaticamente os honorários. É sempre mais fácil ler os grandes títulos. (António de Sousa Coutinho)

 

E como chegar ao valor de um projeto?

Já vimos de onde vem o valor de um projeto, agora há que quantificar e o arquiteto também tem de fazer isto! Eu acho que isto é uma tarefa, não sei se difícil será a palavra, mas uma tarefa delicada, com certeza. No caso do Fragmentos, o António tem esta missão. Para além de um excelente arquiteto, é o nosso Coordenador de Desenvolvimento Comercial, tem por isso esta missão de quantificar estes sonhos, estes desenhos e apresentar uma proposta de honorários. Pegar em todos estes ingredientes – na experiência, na empatia e, claro, nos custos estimados – e chegar a um número. Imaginemos dois ateliers, o mesmo projeto. Um vai ao encontro daquilo que era esperado, o outro vai além de. Este além de faz a diferença. Mesmo que seja mais 100.000,00 € ele faz sonhar e acredita, permite um processo mais participado, inclui anos ou décadas de experiência e o resultado será um projeto de referência, um marco, haverá um antes e um depois daquele projeto. Isso tem um valor e tem de ser valorizado. (Pureza Vaz-Pinto)

Como disse há pouco, nem sempre é óbvio para um cliente perceber o valor intrínseco de um arquiteto ou de um atelier e de que forma é que isso vai influenciar os honorários. Nós quando calculamos o valor de um projeto, para além do valor-hora de todos os envolvidos, de uma estimativa do preço do m2 e dos custos vários, acrescentamos uma parte, como que uma camada, que corresponde a esse lado mais intangível, que tem a ver com o nosso reconhecimento no mercado, com a nossa experiência e com o valor que acrescentamos aos projetos. O tipo de serviço que prestamos e que inclui tudo aquilo que referimos – a empatia, a relação, o pôr-se no lugar no outro, o desenho numa parceria, numa troca constante e delicada – não é fácil de comunicar num primeiro momento, não é fácil para um cliente aperceber-se disso. Por norma, a tendência de um cliente, que é, na verdade, muitas vezes a tendência de todos nós quando procuramos comprar um produto ou contratar um serviço, é ir diretamente para o preço. Para o valor monetário no final da proposta de honorários. Este primeiro impacto é o mais difícil – porque é que vou pagar 200, se os outros me fazem a 50? – e cabe-nos a nós explicar o que é que está inerente a este valor e, claro está, mostrá-lo ao longo do processo para aumentar o nosso reconhecimento e garantir que, da próxima vez, no próximo projeto, o cliente já saiba que o valor que lhe apresentamos advém do valor que acrescentamos a cada projeto. (António de Sousa Coutinho)