Artigos Reconhecimentos

#07 Aprender arquitetura?

Estarão as universidades a preparar-nos para o meio profissional? Há espaço na nossa vida profissional para a academia? Como incluí-la? Neste sétimo artigo da série Doze temas, doze meses, Maria do Rosário Jacinto e Marta Alves refletem sobre as ligações (ou a falta delas) entre as universidades e o meio profissional.

 

Aprender arquitetura?

A arquitetura aprende-se e ensina-se, mas não acredito que o que há para aprender se esgote nos cinco anos que passamos na universidade. Há obviamente um pensamento e uma metodologia que é ensinável e isso vem da academia, uma estrutura de pensamento que depois levamos para o atelier e para o dia a dia de trabalho. Mas também sinto que há uma falta muito grande de entendimento daquilo que é a prática profissional. O que acontece hoje, pelo menos em Portugal, é que há uma linha muito clara que divide a academia do mundo profissional, num momento estamos na Universidade e noutro estamos no atelier, como se fossem duas realidades distintas. Nós temos outras facetas da nossa profissão — o contacto com as câmaras e com a legislação, o contacto com o cliente — que acabam por não ser exploradas naquilo que é a universidade e que quando começamos a trabalhar somos obrigados a exercer. (Maria Jacinto)

A arquitetura aprende-se na universidade, mas também se aprende, e muito, no meio profissional. A academia conduz-nos para um lado mais poético, mais experimental, de certa forma, e o trabalho em atelier dá-nos skills de gestão, de lidar com clientes, de trabalhar em equipa. A academia poderia ter um pouco mais de vida real mas à vida real também falta um pouco de academia. Acontece várias vezes, quando se termina o curso, que a expetativa é uma e a realidade depois não condiz com aquilo que imaginámos, e isto pode conduzir a uma certa frustração. Acho fundamental que se diminua esse fosso e se criem momentos de estreitamento da relação do atelier com a universidade, não só para termos jovens arquitetos mais preparados, mas também para nivelar o ensino com os desafios da atualidade e vice-versa. (Marta Alves)

 

Como reduzir a distância entre o atelier e a academia?

Hoje, e ao contrário do que acontecia há uns anos, vão aparecendo estágios profissionais e estágios de verão, que são momentos em que os alunos, ainda durante o seu percurso académico, são chamados a intervir e a fazer parte daquilo que é uma estrutura profissional. Acho que são momentos fundamentais em que há contacto com a profissão, com contextos reais de projeto e de clientes, e que são uma verdadeira mais-valia na forma como os alunos irão depois abordar o próprio ensino. Contudo, tenho dúvidas que a solução esteja (apenas) nestes momentos isolados. Como em tudo o que não tem uma continuidade ou uma recorrência, o efeito perde-se. O ideal seria mesmo haver uma presença efetiva do mundo profissional no plano curricular, criando condições — até através de parcerias — para que os alunos fossem tendo contacto com ateliers, acompanhando projetos e, no fundo, criando uma imagem real ou pelo menos mais realista, do que os espera no futuro, se seguirem este caminho. (Maria Jacinto)

Acho que uma parceria poderia fazer sentido, isto é um tema que se deve encarar pelos dois lados. Há ateliers mais e menos abertos a estas iniciativas. Eu, por exemplo, se fosse responsável por um curso de Arquitetura gostaria que os meus alunos tivessem uma aprendizagem continuada da vida profissional em ateliers com os quais me identifico e que podem ser uma mais-valia ou podem acrescentar. Mas a verdade, e nós temos prova disso nos estágios de verão do Fragmentos, é que qualquer estudante que venha ao nosso atelier tem sempre forma de contribuir. Ao nosso e a qualquer atelier, traz novas ideias, novas abordagens e obriga-nos também a sair do nosso dia-a-dia e a encarar o nosso trabalho e aqueles que são os desafios da vida profissional de outra forma. Não é apenas o estudante ou a universidade que tem a beneficiar com estes momentos, mas os próprios ateliers. Se o mundo profissional pudesse ter uma presença mais efetiva e contínua no plano curricular, eu voltaria a tirar o curso de Arquitetura! (Marta Alves)

 

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Estarão as universidades a preparar-nos para o meio profissional? Há espaço na nossa vida profissional para a academia? Como incluí-la? Neste sétimo artigo da série Doze temas, doze meses, Maria do Rosário Jacinto e Marta Alves refletem sobre as ligações (ou a falta delas) entre as universidades e o meio profissional.

 

Aprender arquitetura?

A arquitetura aprende-se e ensina-se, mas não acredito que o que há para aprender se esgote nos cinco anos que passamos na universidade. Há obviamente um pensamento e uma metodologia que é ensinável e isso vem da academia, uma estrutura de pensamento que depois levamos para o atelier e para o dia a dia de trabalho. Mas também sinto que há uma falta muito grande de entendimento daquilo que é a prática profissional. O que acontece hoje, pelo menos em Portugal, é que há uma linha muito clara que divide a academia do mundo profissional, num momento estamos na Universidade e noutro estamos no atelier, como se fossem duas realidades distintas. Nós temos outras facetas da nossa profissão — o contacto com as câmaras e com a legislação, o contacto com o cliente — que acabam por não ser exploradas naquilo que é a universidade e que quando começamos a trabalhar somos obrigados a exercer. (Maria Jacinto)

A arquitetura aprende-se na universidade, mas também se aprende, e muito, no meio profissional. A academia conduz-nos para um lado mais poético, mais experimental, de certa forma, e o trabalho em atelier dá-nos skills de gestão, de lidar com clientes, de trabalhar em equipa. A academia poderia ter um pouco mais de vida real mas à vida real também falta um pouco de academia. Acontece várias vezes, quando se termina o curso, que a expetativa é uma e a realidade depois não condiz com aquilo que imaginámos, e isto pode conduzir a uma certa frustração. Acho fundamental que se diminua esse fosso e se criem momentos de estreitamento da relação do atelier com a universidade, não só para termos jovens arquitetos mais preparados, mas também para nivelar o ensino com os desafios da atualidade e vice-versa. (Marta Alves)

 

Como reduzir a distância entre o atelier e a academia?

Hoje, e ao contrário do que acontecia há uns anos, vão aparecendo estágios profissionais e estágios de verão, que são momentos em que os alunos, ainda durante o seu percurso académico, são chamados a intervir e a fazer parte daquilo que é uma estrutura profissional. Acho que são momentos fundamentais em que há contacto com a profissão, com contextos reais de projeto e de clientes, e que são uma verdadeira mais-valia na forma como os alunos irão depois abordar o próprio ensino. Contudo, tenho dúvidas que a solução esteja (apenas) nestes momentos isolados. Como em tudo o que não tem uma continuidade ou uma recorrência, o efeito perde-se. O ideal seria mesmo haver uma presença efetiva do mundo profissional no plano curricular, criando condições — até através de parcerias — para que os alunos fossem tendo contacto com ateliers, acompanhando projetos e, no fundo, criando uma imagem real ou pelo menos mais realista, do que os espera no futuro, se seguirem este caminho. (Maria Jacinto)

Acho que uma parceria poderia fazer sentido, isto é um tema que se deve encarar pelos dois lados. Há ateliers mais e menos abertos a estas iniciativas. Eu, por exemplo, se fosse responsável por um curso de Arquitetura gostaria que os meus alunos tivessem uma aprendizagem continuada da vida profissional em ateliers com os quais me identifico e que podem ser uma mais-valia ou podem acrescentar. Mas a verdade, e nós temos prova disso nos estágios de verão do Fragmentos, é que qualquer estudante que venha ao nosso atelier tem sempre forma de contribuir. Ao nosso e a qualquer atelier, traz novas ideias, novas abordagens e obriga-nos também a sair do nosso dia-a-dia e a encarar o nosso trabalho e aqueles que são os desafios da vida profissional de outra forma. Não é apenas o estudante ou a universidade que tem a beneficiar com estes momentos, mas os próprios ateliers. Se o mundo profissional pudesse ter uma presença mais efetiva e contínua no plano curricular, eu voltaria a tirar o curso de Arquitetura! (Marta Alves)